Política

'Temos confiança no sistema eleitoral brasileiro', diz subsecretária de Estado dos EUA

Em entrevista à BBC News, Victoria Nuland disse querer "eleições livres e justas" no Brasil e afirmou que a população "também precisa ter confiança"
A subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland: americana valorizou o histórico eleitoral brasileiro, ao dizer que o país tem “longa tradição” em eleições legítimas Foto: Sarahbeth Maney / The New York Times / 07/12/2021
A subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland: americana valorizou o histórico eleitoral brasileiro, ao dizer que o país tem “longa tradição” em eleições legítimas Foto: Sarahbeth Maney / The New York Times / 07/12/2021

RIO — A subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, afirmou que seu país confia no sistema eleitoral brasileiro, classificado por ela como “um dos mais fortes da América Latina”. Em entrevista à BBC News, ela também disse que a população brasileira deve “ter confiança” nas eleições do país que, segundo ela, precisam ser “livres e justas”. Recentemente, Nuland esteve no Brasil com uma delegação americana e se encontrou com diplomatas brasileiros.

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O posicionamento da diplomata americana acontece em meio a novas declarações do presidente Jair Bolsonaro, que voltam a colocar em dúvida as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro, apesar de não haver indícios de fraude. Até hoje, o chefe do Planalto também não apresentou provas de suas afirmações. Na semana passada, ele afirmou, inclusive, que contrataria “uma empresa para fazer auditoria nas eleições” . O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por outro lado, tem buscado dialogar com as Forças Armadas e divulgou, nesta segunda-feira, respostas a questionamentos feitos pelos militares sobre a confiabilidade do sistema eleitoral .

Ao ser questionada sobre a postura do presidente, Victoria Nuland disse acreditar que o Brasil “tem um dos sistemas eleitorais mais fortes da América Latina”. Para a diplomata, o sistema brasileiro tem “instituições fortes, salvaguardas fortes, uma base legal forte”, além de estruturas institucionais consolidadas.

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— Então, o que precisa acontecer são eleições livres e justas, usando suas estruturas institucionais que já serviram bem a vocês no passado. Temos confiança no seu sistema eleitoral. Os brasileiros também precisam ter confiança — disse, à BBC News.

Nuland também comentou que postura os Estados Unidos teriam, caso acontecesse no Brasil alguma tentativa de subversão do resultado das urnas. Segundo ela, o desejo de seu país é por “eleições livres e justas em países ao redor do mundo e particularmente nas democracias”. Nuland também valorizou o histórico eleitoral brasileiro, ao dizer que o país tem “longa tradição” em eleições legítimas.

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— Julgamos a legitimidade daqueles que se dizem eleitos com base em se a eleição foi livre e justa e se os observadores, internos e externos, concordam com isso. Então, queremos ver, para o povo brasileiro, eleições livres e justas no Brasil. Vocês têm uma longa tradição nisso. E isso é o mais importante para manter a força do Brasil daqui para frente — afirmou.

Interferência externa

A diplomata também manifestou preocupação com uma interferência da Rússia no pleito brasileiro. Segundo ela, no encontro com diplomatas brasileiros, foi aconselhado que o país seja “extremamente vigilante” de modo a garantir que não exista manipulação de “forças externas”.

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— Vimos a Rússia se intrometer em eleições em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos e na América Latina. Por isso, em minha recente visita ao Brasil, exortei o governo a ser extremamente vigilante, e a oposição também, para garantir que forças externas não estejam manipulando seu ambiente eleitoral de forma alguma. Isso precisa ser uma eleição de brasileiros para brasileiros, sobre seu próprio futuro — completou Nuland, à BBC News.

O posicionamento da diplomata vai ao encontro de um ofício, ao qual O GLOBO teve acesso, que mostrou que em julho do ano passado integrantes do governo brasileiro, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, discutiram com o diretor-geral da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), Williams Burns , assuntos relativos "à promoção da democracia, da segurança e da estabilidade no Hemisfério". O documento foi encaminhado à Câmara dos Deputados pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Augusto Heleno.

Até então, porém, os temas tratados durante a visita jamais haviam sido esclarecidos. Segundo a agência de notícias Reuters informou na semana passada, o dirigente da CIA veio ao Brasil para pedir que o governo brasileiro parasse de questionar a integridade das eleições no país. Burns teria dito ao presidente, ao general Heleno e ao então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que o processo democrático é sagrado e que o sistema de votação no Brasil não poderia ser subestimado.

Em transmissão ao vivo, por meio de suas redes sociais, Bolsonaro negou que tenha recebido o pedido do diretor da CIA.

Resposta a Lula

Na entrevista à BBC News, Victoria Nuland também comentou as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à revista Time, divulgadas na semana passada. O petista havia criticado o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por não ter agido de forma mais incisiva para tentar evitar que o mandatário russo, Vladimir Putin, não começasse a guerra com a Ucrânia.

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Em sua resposta, Nuland afirmou que Biden falou com Putin “duas, três, quatro vezes antes desta guerra, argumentando com ele”, e ressaltou que os Estados Unidos “começaram a alertar o mundo” ainda em novembro do ano passado sobre os planos da Rússia. Para ela, no entanto, o líder russo preferiu a guerra “em vez de vir à mesa diplomática”.

— Durante esse período, o presidente Biden trabalhou muito para tentar convencer o presidente Putin a não ir à guerra, e em vez disso, seguir um caminho diplomático, trabalhar conosco, trabalhar com aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), trabalhar com a Ucrânia, negociar quaisquer preocupações que ele tinha sobre as visões de segurança russas na Ucrânia. E nos oferecemos para ajudar. Tivemos uma rodada de conversas — explicou.