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Por Ricardo Bomfim e Toni Sciarretta — De São Paulo


Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum: página virada da mineração cripto — Foto: Chet Strange/Bloomberg
Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum: página virada da mineração cripto — Foto: Chet Strange/Bloomberg

Foram quase seis anos desde que o Ethereum, a segunda maior “blockchain” do mundo atrás da do bitcoin, começou a discutir a mudança de seu sistema operacional para um modelo mais sustentável do ponto de vista ambiental, capaz de reduzir custos e de ganhar escala. Na madrugada de quinta-feira, às 3h43 (horário de Brasília), a atualização foi realizada, aparentemente sem percalços apesar de temores que foram comparados ao “bug do milênio”, do ano 2000, e acompanhada por mais de 42 mil pessoas em clima de festa.

Para os céticos, no entanto, a blockchain virou as costas para os mineradores, responsáveis até então pelo sucesso da rede, tornando-se praticamente uma sociedade anônima (S.A.), de alto apelo comercial e de atração de “players” do mundo regulado, com verniz ambiental, mas que vai promover concentração de renda ao privilegiar e remunerar quem tem mais moeda digital no trabalho de construção dos blocos. Também apontaram risco de liquidez ao tirar até 80% das moedas das negociações para promover esse trabalho de autenticação.

O Ethereum é o maior ecossistema de criptoativos em operação comercial, hospeda mais de 3.500 aplicações dos mais diversos serviços financeiros, além de games e comunidades do metaverso. Com a atualização, chamada “The Merge”, a validação do blockchain sairá do sistema PoW (Proof of Work, ou Prova de Trabalho), o mesmo do bitcoin. Nele, mineradores usam poder computacional para descobrir novos blocos da rede por onde passam as transações. No novo sistema, o PoS (Proof of Stake, ou Prova de Participação), esta validação ocorre pelo depósito voluntário de criptomoeda (ether), que ficam indisponíveis por um tempo atuando como validadores.

O criador do Ethereum, Vitalik Buterin, disse que a atualização reduzirá o gasto de energia elétrica do protocolo para 0,05% do que é hoje, tornando o blockchain muito mais sustentável. Ele estima uma redução de 0,2% no consumo de energia global graças à atualização.

Segundo Lars Janér, head do fundo Lupa Web3 da KPTL, o mercado financeiro tradicional está olhando para isso e o investidor institucional deve entrar com mais peso no Ethereum a partir de agora. “O apetite do institucional tende a aumentar. É um projeto que veio para ficar por ser uma plataforma para construção de aplicações descentralizadas e não somente um meio de pagamento.”

Já Fabricio Tota, diretor de novos negócios do MB, avalia que para o investidor que resistia em investir em criptoativos devido ao uso intensivo de energia pelos mineradores há um argumento a menos no caminho. Lembrando que a Black Rock, maior gestora de ativos do mundo com US$ 10 trilhões sob gestão, lançou em agosto deste ano um fundo com exposição ao bitcoin após parceria com a corretora de criptoativos Coinbase.

Outro ponto positivo, diz Tota, é que as preocupações geradas com a possibilidade de que a atualização fosse malsucedida e gerasse bugs e falhas de segurança no blockchain do Ethereum parecem ter sido infundadas. Tota avalia que o momento atual é ótimo para o investidor que deseja comprar tokens ethereum (ETH) de olho no longo prazo, uma vez que a complexidade dessa atualização já passou e há menos indefinições.

O próximo passo do Ethereum será fazer atualizações no ano que vem com foco em simplificar as bases de códigos e aumentar o poder de processamento da rede, ampliando, com isso, a quantidade de transações que podem ser processadas. O Ethereum consegue processar de 15 a 20 transações por segundo, número mais elevado do que o do bitcoin (apenas sete), mas muito inferior ao de redes concorrentes como a Solana, que é mais centralizada.

Na hora de enviar uma transação, como subir um Token Não Fungível (NFT, na sigla em inglês) no Ethereum, quem paga mais consegue passar sua operação primeiro. Esta taxa para ter a transação validada chama-se no jargão dos criptoativos de “gas fee” - e as “gas fees” do Ethereum estão entre as mais altas do mercado, o que levou muitas aplicações a migrarem para a concorrência. “As atualizações tornarão o Ethereum mais amigável para o meio ambiente, mais rápido e mais barato, podendo ocorrer uma explosão de novas aplicações”, destaca Janér.

Já Carl Amorim, iniciador da Organização Autônoma Descentralizada (DAO, na sigla em inglês) Kairos e fundador do Blockchain Hub Brasil, lamentou o “The Merge” como um passo atrás na revolução que foi iniciada pelo bitcoin. Isso porque, segundo ele, a migração da rede da Prova de Trabalho para Prova de Participação a tornará mais centralizada e teria provado que o grupo de Vitalik Buterin gere o protocolo como uma empresa, e não como uma comunidade.

“Virou um grupo fechado. Terá mais poder de validação quem tem mais dinheiro. As pessoas vão comprando mais criptomoeda no PoS para se tornarem donos da rede”, critica.

O caminho do Ethereum, na opinião de Amorim, é tornar-se cada vez mais um instrumento de especulação de investidores de Wall Street obcecados pelo sobe e desce dos preços do ether (ETH) e menos uma plataforma para construir aplicações realmente disruptivas na sociedade. “A opinião do mercado é sempre contra disseminação e inclusão em qualquer blockchain. Vai ficar mais caro para fazer contratos inteligentes”, diz.

Tota rejeita essa tese e diz que investidores e desenvolvedores de aplicações andam juntos. “Quando você cria algo que tem valor é assim. O mercado, no final, corrige os desajustes”, avalia.

Outra crítica de Amorim é que desde que foi criado em 2013 o Ethereum usou o trabalho de mineradores para validar as transações na sua rede, e agora está abandonando esta comunidade.

Cofundadora da Ethereum Brasil, Solange Gueiros minimizou o papel dos mineradores e diz que o “The Merge” foi fundamental para levar o Ethereum ao futuro. “O papel dos mineradores não é tão grande no ecossistema do Ethereum. A rede continua em pé apesar deles estarem sendo retirados”, alega. “O Ethereum é o que é por causa das aplicações que existem”, diz Gueiros.

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