Dito e feito
Do nosso último Boletim de Dados, a partir do relatório State of AI: “Entre as previsões para os próximos 12 meses, os investidores apontam para uma grande descoberta do DeepMind (empresa do Google/Alphabet) na área de biologia estrutural, por meio da predição da estrutura de proteínas por exemplo, e da descoberta de remédios”.
Não demorou muito. Ontem, 30 de novembro de 2020, pesquisadores do DeepMind anunciaram que a última versão do sistema AlphaFold conseguiu resolver um problema de mais de cinco décadas na biologia, relacionado às estruturas proteicas, que é essencial para a compreensão do desenvolvimento da vida e pode transformar a indústria farmacêutica. Há quem diga inclusive que este é o primeiro uso de inteligência artificial para resolver um problema sério, de acordo com o MIT Technology Review.
Para uma explicação didática do AlphaFold e o problema de enovelamento das proteínas (protein folding), confira o vídeo feito pela equipe do DeepMind.
Abusos e vieses
Ao mesmo tempo em que podem ser utilizadas para boas causas, como as aplicações para combater o desmatamento na Amazônia, as técnicas de inteligência artificial também podem ser empregadas para finalidades nada nobres. Foi publicado recentemente um relatório sobre usos criminosos da inteligência artificial em áreas diversas, como programas para quebrar senhas, bots capazes de enganar muita gente, com práticas de engenharia social em larga escala, além de outras aplicações mais conhecidas, como a elaboração de registros falsos de vídeo ou vozes (deep fakes) e a criação de vírus. O documento ‘Malicious Uses and Abuses of Artificial Intelligence’ foi elaborado pelas Nações Unidas com a Europol e outras organizações.
Além disso, há preocupação com usos de IA mesmo em aplicações que não são criminosas por definição, mas cujos usos podem ser bastante danosos, especialmente para grupos minoritários. A Nature fez uma pesquisa com 500 pesquisadores de tecnologias de reconhecimento facial e mostrou que 70% considera que utilizá-las com tais grupos pode ser eticamente questionável, mesmo se houver consentimento informado das pessoas envolvidas. Por aqui, o tema de racismo algorítmico foi pauta de um debate no canal Direitos na Rede.
Lei anti-hacking nos EUA e governança dos dados na Europa
A Suprema Corte dos Estados Unidos analisa novamente sua principal lei anti-hacking, o Computer Fraud and Abuse Act. O CFAA é uma legislação criada em 1986, cujas interpretações restritivas no contexto atual podem ter impactos significativos em diversas atividades online, inclusive na prática de raspagem de dados.
Vale lembrar que foi com base nesta lei que Aaron Swartz foi processado por raspar artigos acadêmicos da base de dados JSTOR. Porém, mesmo sem infrações de copyright, atividades mais simples de jornalismo de dados e pesquisa online podem ficar em xeque. O The Markup registrou um documento como amicus curiae, defendendo a liberdade de raspar dados com base na primeira emenda da constituição americana, e endossa a campanha ‘Scraping is not a crime’. Em 2019, fizemos um breve post sobre este debate no blog da Escola de Dados.
Enquanto isso, a União Europeia propôs novos protocolos de governança para os dados de seus países. A European Comission propôs medidas para impulsionar o compartilhamento de dados entre os países, beneficiando governo, cidadãos e empresas. Entre as medidas, está a facilitação da reutilização de certos dados obtidos para o poder público, em temas específicos.
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